
O Sumidouro de Efforn
Thu Apr 08 2021 03:00:00 GMT+0000 (Coordinated Universal Time)
O vento gélido e cortante castigava a dupla de ferreiros em uma curva da estrada repleta de neve. Várias camadas de tecido protegiam seus corpos, mas ambos pressionavam o maxilar ante o frio.
– Mestre Argg, por que sofrer circundando parte das montanhas? Não podemos seguir por aquele caminho?
Sem parar de mover suas pernas, o homem de meia-idade virou o rosto para a paisagem apontada pelo discípulo.
– Às vezes esqueço que você não cresceu por aqui, Gonnur. Este trajeto passa pelo coração do Sumidouro de Efforn. Ninguém o utiliza, a menos que procure a morte.
O aprendiz na arte da forja estreitou os olhos em desconfiança, e Argg explicou:
– Efforn era um habilidoso protetor arcano de nosso reino. O melhor em muitos séculos. Quando dois gigantes elementais foram avistados por viajantes, ele liderou uma pequena equipe desfiladeiro adentro para derrotá-los. Ninguém retornou.
– E encontraram os corpos?
– Nunca. Muitos tentaram, poucos voltaram. E os que sobreviveram afirmam que nada viram de diferente ou ameaçador.
– Talvez não passem de histórias – afirmou Gonnur. – Economizaríamos dias de viagem. Seriam turnos preciosos que poderíamos gastar junto a uma forja, produzindo mais armas para vender.
Argg parou na estrada e se voltou para o discípulo, ponderando sobre a despreocupação ingênua do jovem.
– Se não acredita nas histórias, acredite em minhas palavras. Não vale o risco. Entretanto, sinta-se à vontade para seguir sozinho pelo desfiladeiro. Serei capaz de encontrar outro aprendiz.
Esfregando as mãos enluvadas, Gonnur encarou os dois dentes de rocha que marcavam o início do perigoso trajeto. Após engolir em seco, ele comentou:
– Alguém deve ser corajoso o suficiente para utilizar este caminho.
– Todo ano ouvimos falar de novas tentativas. Alguns saem ilesos, outros simplesmente somem. Você deseja arriscar?
– Não – admitiu Gonnur, em um sopro de lamento e resignação. – Quem sabe outro dia.
– Ótimo. Você acabou de se mostrar um pouco mais capaz. Ferreiros também precisam pensar.
Arte: Mathieu Seveno (ArtStation)